PMAS

“Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago”, é uma pequena rota circular com cerca de 15 km, que invoca sobretudo ao turismo de natureza, cultural e religioso, que permite a contemplação de diversas manifestações da vida.

Pequena Rota Circular

Partida e Chegada: fim da Rua Padre Gregório Magalhães, junto ao Centro Paroquial de S. Martinho, em Soalhães.
GPS: N4109699 - W00805704
Âmbito: cultural, histórico, paisagístico, e pedagógico.
Tipo de percurso: de pequena rota, fundamentalmente por caminhos rurais antigos.
Distância a percorrer: cerca de 15km, em círculo
Duração: cerca de 4,5h
Nível de dificuldade: médio
Época aconselhada: todo ano

CUIDADOS

- Seguir somente pelos trilhos sinalizados;
- Cuidado com o gado. Embora manso não gosta da aproximação de estranhos às suas crias;
- Evitar barulhos e atitudes que perturbem a paz do local;
- Observar a fauna à distância preferencialmente com binóculos;
- Não danificar a flora;
- Não abandonar o lixo, levando-o até um local onde haja serviço de recolha;
- Fechar as cancelas e portelos;
- Respeitar a propriedade privada;
- Não fazer lume;
- Não colher amostras de plantas ou rochas;
- Ser afável com os habitantes locais, esclarecendo-os quanto à actividade em curso e às marcas do percurso pedestre.


O PERCURSO

Este percurso decorre numa zona de montanha, a Serra da Aboboreira, de elevado valor cultural e natural, preservada do progresso urbanístico, por séculos de isolamento geográfico e pela subsequente desertificação humana. Aqui as gentes, ancestralmente adaptadas a esse ambiente e vivendo em tradicionais casas graníticas de arquitectura vernácula, ainda cultivam a leira à força braçal e animal e onde podemos assistir à moenda do cereal nos moinhos de água.

Tal ambiente, calmo e pouco povoado, propicia a existência de nichos ecológicos para variadíssimas espécies da fauna e flora de grande valor natural, que aí encontram refúgio. Pelo caminho o pedestrianista percorre bosques de carvalho, campos de cultivo sobranceiros às aldeias, zonas de vegetação arbustiva e sub-arbustiva.

Salpicando a paisagem podem observar-se majestosas fragas com formas finamente arredondadas, lembrando silenciosos guardiões da serra. Umas vezes são usadas como apoio amigo que protege das intempéries, pelo que ancestralmente a gente partilhava com elas o seu lar ao construir as suas casas a elas encostadas. Outras vezes, estes geomonumentos, pela desproporção e “equilíbrio ameaçador” em que se encontram, inclinadas sobre as habitações, parecem querer recordar ao Homem a sua pequenez e o quanto a sua existência está nas mãos do destino.

As construções de pendor religioso salpicam a paisagem, como é o caso das capelas de S. Clemente, S.Tiago, S. Brás e S. Bento do Pinhão.

Durante o trajecto percorrem-se caminhos antigos de ladeados de muros de pedra, muitas vezes escavados na rocha-mãe, por sua vez sulcados pelos rodados dos carros de bois, testemunhas do tempo em que a necessidade obrigava a tirar o sustento de terras pobres e declivosas.


OS MOINHOS DE VINHEIROS

“Parai de moer, ó mulheres que vos esforçais no moinho!
Continuai dormindo, mesmo que os galos cantem o nascer do dia:
Pois Deméter ordenou às ninfas da água
Que façam elas o vosso trabalho:
Saltando pelo rodízio, fazem girar o eixo
Que obriga a mover as grandes pedras trituradoras.”


Já lá vão mais de dois mil anos que estes versos de Antipater - o poeta que elegeu as sete maravilhas do mundo – nos dão notícia da existência dos moinhos que passaram a utilizar a energia hidráulica, em vez da força humana, dos escravos ou dos animais.

Deméter, deusa grega da agricultura, baptizada pelos romanos como Ceres (de onde a palavra “cereal”), teria, assim, inspirado a invenção da primeira “máquina”.

Isto, aliás, é confirmado poucos anos depois, ainda no século I a.C., por Vitrúvio arquitecto e engenheiro militar de César, na sua obra “De Architectura”, quando, no Livro X, nos diz que “também se instalam, nos rios, umas rodas, com uma espécie de asas que, batidas pelo ímpeto da corrente, são obrigadas a girar, sem esforço humano…ligadas à mó, que com o mesmo rodar expulsam a farinha”.

E parece haver consenso entre os historiadores de que foram os romanos a trazer os primeiros moinhos de água para a Península Ibérica, a substituir as mós manuais que se encontram no espólio de alguns castros. Os árabes impulsionaram, sobretudo, a construção de azenhas (roda vertical) onde havia correntes de água mais abundante.

No entanto, muito tempo havia de passar, e atravessar a Idade Média, durante a qual geralmente só os “senhores” possuíam o direito de interromper os cursos de água para instalar estes engenhos.

Só com descoberta da América foi introduzido em Portugal o milho, e sobretudo, mais tarde, o milho maíz, ou milho grosso, dando origem, a partir do século XVIII, a uma verdadeira proliferação de moinhos em todos os rios e ribeiras onde se pudesse aproveitar a força motriz da água, já que o pão continuou a ser uma das bases essenciais da alimentação.

Ainda hoje se pode dizer que estes engenhos, muitos deles em ruínas ou abandonados com a descoberta da electricidade, constituem uma marca indelével da paisagem rural, tal como as igrejas e capelas: a estas ia-se buscar o pão da alma; àqueles, o pão do corpo.

Momento importante no “ciclo do pão”, que se pode resumir na sequência do lavrar e semear, sachar e mondar, ceifar, secar e desfolhar, malhar e moer, para terminar em farinha amassada e levedada, cozida no forno, e, por vezes, numas saborosas papas com legumes, para não falar nos “milhões” que substituíam o arroz, o trabalho dos moinhos está ligado também a outras vertentes da etnografia popular, através de costumes e lendas, e do nosso cancioneiro:

“Moleiro anda pr’ó céu / Senhor, não tenho vagar / O milho está na dorneira / Inda ‘stá por maquiar”. E também para não esquecer: “Oh! que lindos olhos tem / Ai a filha da moleirinha / Tão mal empregada ela / Ai andar ao pó da farinha”.

Mas estes moinhos não eram de moleiros, nem de troca e maquia. O “Moinho de Balcão”, cedido pela Srª. Dª Diamantina Dias e familiares, faz parte de um belo conjunto de onze, envolvidos por uma vegetação luxuriante, da Ribeira de Vinheiros, em Soalhães, afluente do Lardosa, que aproveitam a mesma água, e dos quais foram recuperados mais três, pela Junta de Freguesia, com o apoio do Programa Leader + e da Câmara Municipal.

Quem nele moeu, pela última vez, nos anos 70, antes da recuperação, foram os consortes das famílias Dias e Monteiro, e o carpinteiro que construiu o actual rodízio, foi o Sr. Manuel Baptista.

De novo a trabalhar como antigamente, constitui agora um dos mais atraentes motivos que tornam aliciante o percurso “Pedras, Moinhos e Aromas de Santiago”, fazendo as delícias de visitantes, alunos, turistas e caminheiros que, por aqui muito podem aprender e conviver.

Pereira Cardoso


Flora

O realce vai para as manchas remanescentes de carvalhais galaico-portugueses, bosques climatófilos de carvalho-alvarinho (Quercus robur), os últimos do distrito do Porto e dos melhores conservados do maciço Marão/Alvão/Aboboreira, que sobrevivem em vales abrigados entre os 600 e 750 metros de altitude. Estes bosques de carvalho-alvarinho da serra da Aboboreira que, por vezes, surgem em associação com outras Quercíneas como o sobreiro (Quercus suber) e o carvalho negral (Quercus pyrenaica), sobretudo nas áreas de solos mais secos, ou nas encostas mais soalheiras, enquadram-se, do ponto de vista fitossociológico, na associação Rusco aculeati-Quercetum roboris e albergam inúmeras espécies de plantas arbustivas e herbáceas da flora nemoral, como o azevinho (Ilex aquifolium), a aveleira (Corylus avellana), o catapereiro (Pyrus piraster), a gilbardeira (Ruscus aculeatus), a saxífraga (Saxifraga spathularis) e o Castanheiro (Castanea sativa).
Nesta zona é característica a utilização de ervas aromáticas, quer na gastronomia, quer na medicina tradicional, tais como o rosmaninho, o alecrim, o louro, a hortelã, a salsa, o funcho, a arruda, o trovisco, a cidreira, a marcela, a arnica, os agriões e os poejos.


Fauna

Correspondendo à diversidade de biótopos naturais, a serra da Aboboreira alberga igualmente um importante e rico património faunístico, sendo de destacar, no que diz respeito aos invertebrados, várias espécies de Lepidópteros (borboletas), algumas das quais raras e ameaçadas a nível europeu como a Callophrys Avis, a Melitaea trivia e a Coenonympha iphioides, para além de várias espécies de Coleópteros (escaravelhos), entre os quais o Lucanus cervus. Contudo, para além dos invertebrados, a Aboboreira alberga ainda cerca de 68 espécies de vertebrados terrestres, não incluindo as aves. De entre estes, realce para alguns endemismos com elevado interesse conservacionista, como é o caso da salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), do tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai), da rã-ibérica (Rana ibérica) e do lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), no caso da herpetofauna e da toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus). Nos mamíferos destacam-se o javali (Sus scrofa), o coelho bravo, a lebre, a raposa (Vulpes vulpes) e o gato-bravo.
Na fauna doméstica, há a salientar o gado ovino e caprino, que pastoreiam na encosta da serra, permitindo fazer o saboroso queijo fresco, assim como o bovino ainda utilizado na agricultura tradicional.


Ervas Aromáticas

Rosmaninho (Lavandula pedunculata), Trovisco (Daphne lgnidium L.), Cidreira (Melissa officinalis), Rosmaninho (Lavandula luisieri), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Louro (Laurus nobilis), Hortelã (Mentha piperita L.), Salsa (Petroselinum crispum), Funcho (Foeniculum vulgare), Arruda (Ruta graveolens L)